segunda-feira, 6 de outubro de 2014

OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO

Os quatro pilares da Educação
Pistas e recomendações

A Educação ao Longo da Vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

● Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente ampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade, um número reduzido de assuntos, ou seja, aprender a aprender para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela Educação ao Longo da Vida.

● Aprender a fazer, a fim de adquirir não só uma qualificação profissional, mas uma qualificação mais abrangente. É a competência que torna a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Além disso, aprender a fazer no âmbito das experiências sociais ou de trabalho oferecidas aos jovens e adolescentes, seja espontaneamente, na sequência do contexto local ou nacional, seja formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho.

● Aprender a conviver, desenvolvendo a competência do outro e a percepção das interdependências — realizar projetos comuns e preparar-se para gerenciar conflitos — no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.

● Aprender a ser, para desenvolver, o melhor possível, a personalidade e estar em condições de agir com uma capacidade cada vez maior de autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal. Com essa finalidade, a Educação deve levar em consideração todas as potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se.

No momento em que os sistemas educacionais formais tendem a privilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimento das outras formas de aprendizagem, é mister conceber a Educação como um todo. Essa perspectiva deve, no futuro, inspirar e orientar as reformas educacionais, seja na elaboração dos programas ou na definição de novas políticas pedagógicas.

A Educação ao Longo da Vida

Pistas e recomendações

● O conceito de Educação ao Longo da Vida é a chave que abre as portas do século XXI; ele elimina a distinção tradicional entre educação formal inicial e educação permanente. Além disso, converge em direção a outro conceito, proposto com frequência: o da sociedade educativa, na qual tudo pode ser uma oportunidade para aprender e desenvolver os talentos.

● Sob essa nova perspectiva, a educação permanente é concebida como algo que vai muito além do que já se pratica, especialmente nos países desenvolvidos, englobando as iniciativas de atualização, reciclagem e conversão, além da promoção profissional dos adultos. Ela deve abrir as possibilidades da Educação a todos, com vários objetivos: oferecer uma segunda ou terceira oportunidade; dar resposta à sede de conhecimento, de beleza ou de superação de si mesmo; ou, ainda, aprimorar e ampliar as formações estritamente associadas às exigências da vida profissional, incluindo as formações práticas.

● Em suma, a Educação ao Longo da Vida deve tirar proveito de todas as oportunidades oferecidas pela sociedade.

Da Educação Básica à universidade

Pistas e recomendações

● O reforço da Educação Básica é uma exigência válida para todos os países, mediante a adaptação de modalidades e conteúdos diferentes. Daí a ênfase atribuída ao Ensino Fundamental e às suas aprendizagens básicas clássicas — ler, escrever, contar —, assim como à possibilidade de se exprimir uma linguagem suscetível de facilitar o diálogo e a compreensão.

● A necessidade — ainda mais forte no futuro — de uma abertura ao universo da ciência, chave para abrir as portas para o século XXI e suas reviravoltas científicas e tecnológicas.

● Adaptar a Educação Básica aos contextos particulares, aos países e às populações mais desfavorecidos. Partir de dados da vida quotidiana, que oferece oportunidades de compreender os fenômenos naturais, assim como de ter acesso às diferentes formas de sociabilidade.

● Evocar os imperativos da alfabetização e da Educação Básica para os adultos.

● Privilegiar, em todos os casos, a relação entre professor e aluno; as tecnologias de última geração, por sua vez, devem limitar-se a apoiar a relação (transmissão, diálogo e confronto) entre o docente e o discente.

● A Educação Secundária deve ser repensada nessa perspectiva geral de Educação ao Longo da Vida. O princípio essencial consiste em organizar a diversidade de opções sem que seja fechada a possibilidade de um retorno ulterior ao sistema educacional.

● Os debates sobre a seletividade e a orientação tornar-se-iam muito mais transparentes se esse princípio fosse plenamente aplicado; nesse caso, todos teriam o sentimento de que, independentemente das opções e dos cursos frequentados na adolescência, nenhuma porta seria fechada no futuro, tampouco a da própria escola. A igualdade de oportunidades adquiriria, então, seu pleno sentido.

● A universidade deve ocupar o centro do sistema educacional mesmo que, à semelhança do que ocorre em numerosos países, existam outros estabelecimentos de Ensino Superior.
● A universidade deveria desempenhar estas quatro funções essenciais:

1 Preparação para a pesquisa e para o ensino.

2 Oferta de uma formação, em diferentes áreas, bastante especializada e adaptada às necessidades da vida econômica e social.

3 Abertura a todos para responder aos múltiplos aspectos do que se designa por educação permanente, em sentido lato.

4 Cooperação internacional.

● A universidade deve dispor também da possibilidade de se exprimir, com toda a independência e responsabilidade, os problemas éticos e sociais — como uma espécie de poder intelectual, indispensável para ajudar a sociedade a refletir, compreender e agir.

● A diversidade da Educação Secundária e as possibilidades oferecidas pela universidade devem fornecer respostas válidas para os desafios da massificação ao suprimir a obsessão pela via principal e única. Combinadas com a generalização da alternância estudo/trabalho, elas devem permitir também a luta eficaz contra o fracasso escolar.

● O desenvolvimento da Educação ao Longo da Vida implica o estudo de novas formas de obtenção das certificações que levem em consideração o conjunto das competências adquiridas.

Os professores em busca de novas perspectivas

Pistas e recomendações

● Mesmo que a situação psicológica e material dos professores seja muito diferente de acordo com o país abordado, impõe-se a revalorização de seu status para que a Educação ao Longo da Vida venha a desempenhar a missão central que a Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI lhe atribui para o progresso de nossas sociedades e para o fortalecimento da compreensão mútua entre os povos. O professor deve ser reconhecido como tal pela sociedade, além de dispor da autoridade necessária e das ferramentas adequadas para exercer sua função.

● Mas a Educação ao Longo da Vida implica, diretamente, o conceito de sociedade educativa: nessa sociedade, são oferecidas múltiplas oportunidades de aprender, tanto na escola quanto na vida econômica, social e cultural. Daí a necessidade de multiplicar as negociações e as parcerias com as famílias, o meio econômico, o mundo associativo, os atores da vida cultural, etc.

● Os professores são afetados também por esse imperativo de atualização dos conhecimentos e das competências. Sua vida profissional deve ser organizada de tal modo que estejam em condições de aprimorar sua arte e de se beneficiar de experiências vividas em diversas esferas da vida econômica, social e cultural. Em geral, tais possibilidades estão previstas nas múltiplas formas de licença para formação ou de ano sabático; essas fórmulas, devidamente adaptadas, devem ser ampliadas a todos os professores.

● Mesmo que o ofício de professor seja, fundamentalmente, uma atividade solitária, no sentido de que cada professor deve assumir suas próprias responsabilidades e deveres profissionais, o trabalho em equipe é indispensável, sobretudo no secundário, para melhorar a qualidade da Educação e adaptá-la melhor às características particulares das aulas ou dos grupos de alunos.

● O Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI insiste na importância do intercâmbio de professores e das parcerias entre instituições de países diferentes. Tais iniciativas garantem um indispensável valor agregado à qualidade da Educação, assim como maior abertura a outras culturas, civilizações e vivências; eis o que é confirmado pelas experiências em curso.

● Todas essas orientações devem ser objeto de diálogo, até mesmo de contratos, com as organizações de professores, passando por cima do caráter puramente corporativista de tais negociações. De fato, as organizações sindicais, além do objetivo de defender os interesses morais e materiais de seus associados, acumularam um capital de experiências; elas se dispõem a transmitir esse acervo aos responsáveis pelas decisões políticas.

Escolhas na área da Educação: 
o papel do político

Pistas e recomendações

● As opções educacionais são opções de sociedade: em todos os países, elas exigem um amplo debate público, baseado na avaliação rigorosa dos sistemas educacionais. A Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI convida as autoridades constituídas a facilitar esse debate, de modo que seja possível chegar a um consenso democrático, que é a via mais adequada para o sucesso das estratégias de reforma.

● A Comissão preconiza a implementação de medidas que permitam associar os diferentes atores sociais às tomadas de decisão em matéria de Educação; em seu entender, a descentralização administrativa e a autonomia dos estabelecimentos de ensino podem levar, na maioria dos casos, ao desenvolvimento e à generalização da inovação.

● Nessa perspectiva é que a Comissão entende reafirmar o papel do político: incumbe-lhe o dever de apresentar as opções com clareza e de garantir regulamentação geral com as adaptações indispensáveis. De fato, a Educação constitui um bem coletivo que não pode ser regulado pelo simples jogo do mercado.

● Nem por isso a Comissão subestima a importância das condicionantes financeiras e preconiza a implantação de parcerias entre setor público e privado. Para os países em desenvolvimento, o financiamento público da Educação Básica continua sendo uma prioridade, mas as opções adotadas não devem desestabilizar a coerência do sistema no seu conjunto nem prejudicar os outros níveis de ensino.

● Por outro lado, é indispensável que as estruturas de financiamento sejam reexaminadas à luz do princípio segundo o qual a Educação deve desenvolver-se ao longo da vida dos indivíduos. Nesse sentido, a Comissão julga que a proposta de um “crédito-tempo” para a Educação — tal como ela é formulada, sumariamente, neste relatório — merece ser debatida e aprofundada.

● O desenvolvimento das novas Tecnologias da Informação e da Comunicação deve suscitar uma reflexão geral sobre o acesso ao conhecimento no mundo de amanhã. A Comissão recomenda:

1 Diversificação e aprimoramento do ensino a distância pelo recurso das novas tecnologias.

2 Crescente utilização dessas tecnologias no âmbito da educação de adultos, em particular para a formação contínua de professores.

3 Fortalecimento das infraestruturas e capacidades dos países em desenvolvimento, assim como a divulgação das tecnologias por toda a sociedade: trata-se, de qualquer maneira, de condições prévias à sua utilização no âmbito dos sistemas educacionais formais.

4 Lançamento de programas de divulgação das novas tecnologias sob os auspícios da Unesco. 

A cooperação internacional: 
educar a aldeia global

Pistas e recomendações

● A necessidade de uma cooperação internacional — que deve ser repensada radicalmente — é válida também para a área da Educação; trata-se de uma questão que implica não só os responsáveis pelas políticas educativas e os professores, mas também todos os atores da vida coletiva.

● No plano da cooperação internacional, promover uma política que sirva de forte incentivo em favor da educação das moças e mulheres, de acordo com o espírito da Conferência de Beijing (1995).

● Modificar a orientação da política de assistência para uma perspectiva de parceria ao favorecer, especialmente, a cooperação e o intercâmbio no âmago de grupos regionais.

● Alocar à Educação um financiamento correspondente a 25% da ajuda destinada ao desenvolvimento.

● Incentivar a conversão de dívidas, a fim de compensar os efeitos negativos — sobre as despesas com a Educação — das políticas de ajuste e de redução de déficits interno e externo.

● Ajudar no fortalecimento dos sistemas educacionais nacionais ao encorajar as alianças e a cooperação entre os ministérios em nível regional e entre países que enfrentam problemas semelhantes.

● Ajudar os países a enfatizar a dimensão internacional do ensino ministrado (programas de estudo, recurso às Tecnologias da Informação, cooperação internacional).

● Incrementar novas parcerias entre as instituições internacionais que se dedicam à Educação, lançando, por exemplo, um projeto internacional que tenha o objetivo de divulgar e implementar o conceito de Educação ao Longo da Vida, a partir do modelo de iniciativa interinstitucional que culminou na Conferência de Jomtien.

● Estimular — em particular, pela criação de indicadores adequados — a coleta em escala internacional de dados relativos aos investimentos nacionais na Educação: soma total dos fundos privados, dos investimentos do setor industrial, das despesas com a educação não formal, etc.

● Constituir um conjunto de indicadores destinados a detectar as disfunções mais graves dos sistemas educacionais, relacionando, por exemplo, diversos dados quantitativos e qualitativos: nível de despesas com a Educação, taxa de desperdício, desigualdades de acesso, falta de eficácia dos diferentes setores do sistema, deficiente qualidade de ensino, condição dos docentes, etc.

● De acordo com uma iniciativa de prospecção, criar um observatório Unesco das novas Tecnologias da Informação, de sua evolução e de seu impacto previsível, não só sobre os sistemas educacionais, mas também sobre as sociedades modernas.

● Incentivar, por intermédio da Unesco, a cooperação intelectual na área da Educação: cátedras Unesco, escolas associadas, partilha equitativa do saber entre países, divulgação das Tecnologias da Informação, intercâmbio de estudantes e de pesquisadores.

● Fortalecer a ação normativa da Unesco a serviço de seus estados-membros, por exemplo no que diz respeito à harmonização das legislações nacionais com os instrumentos internacionais.

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