sábado, 30 de agosto de 2014

REUNIÃO DE PAIS E MESTRES

PAIS MAUS
Dr. Carlos Hecktheuer
Quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de dizer-lhes:

Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.

Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.

Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram do supermercado e dizer ao dono: “Nós pegamos isto ontem e queremos pagar”.

Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto de vocês, por duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.

Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.

Mais do que tudo:

Eu os amei o suficiente para dizer-lhes "não", quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso, e em alguns momentos até me odiaram. Essas eram as mais difícieis batalhas de todas.

Estamos contentes, vencemos! Porque, no final, vocês venceram também!
E, em qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, quando eles lhes perguntarem se seus pais eram maus, meus filhos vão lhes dizer: "Sim, nossos pais eram maus. Eram os pais mais malvados do mundo".

As outras crianças comiam doces no café, e nós tínhamos de comer pão, frutas e vitaminas. As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvete no almoço, e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne e legumes. E eles nos obrigavam a jantar à mesa, bem diferente dos outros pais que deixavam seus filhos comerem vendo televisão.

Eles insistiam em saber onde estávamos à toda hora. Era quase uma prisão. Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles.

Papai insistia para que lhe disséssemos com quem iríamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos.
Nós tínhamos vergonha de admitir, mas eles "violavam as leis do trabalho infantil". Nós tínhamos de tirar a louça da mesa, arrumar nossas bagunças, esvaziar o lixo e fazer todo esse tipo de trabalho que achávamos cruel. Eu acho que eles nem dormiam à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer. Eles insistiam conosco para que disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade. E, quando éramos adolescentes, eles conseguiam até ler os nossos pensamentos.

A nossa vida era mesmo chata. Enquanto todos podiam voltar tarde da noite com 12 anos, tivemos de esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde. O papai, aquele chato, levantava para saber se a festa foi boa só para ver como estávamos ao voltar.

Por causa de nossos pais, nós perdemos imensas experiências na adolescência: nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. Foi tudo por causa deles.

Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos fazendo de tudo para sermos "PAIS MAUS", como os nossos foram.

Fonte: Jornal Missão Jovem, Ano XVIII, nº 190. Junho/2004. Pais Maus, Dr. Carlos Hecktheuer, Médico Psiquiatra, Passo Fundo, RS.
E-mailcrhecktheuer@tpo.com.br

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

MENSAGEM

Quando as folhas caem
Autor desconhecido


Ao contemplarmos a natureza, podemos tirar muitas
lições sobre a vida.

As parreiras, por exemplo, quando estão fora da época de dar uvas, ficam completamente secas, como se estivessem
sem vida. No momento certo, os brotos começam a despontar, as folhas surgem,
e nascem os cachos de uvas. Quando os frutos cessam, a parreira volta a
adormecer, como se estivesse descansando e se revigorando para a próxima colheita.

A vida também é como o ciclo das parreiras. Em alguns momentos, parece que tudo acabou, que não vamos conseguir transpor aquele conflito, voltar a viver em harmonia familiar, reorganizar a vida financeira.

Ao olharmos para a parreira seca, não conseguimos ver a força da vida que vibra dentro dela. Da mesma forma, quando estamos passando por uma situação muito difícil, não conseguimos olhar, em nós mesmos, os recursos que temos para vencer as dificuldades.

Olhar o caos como algo produtivo, conseguir aprender com os próprios erros e fazer deles uma ponte para o crescimento como pessoa são atitudes sábias.

O silêncio, nesses momentos, abre espaço para a reflexão, e é através desse contato com nós mesmos que descobrimos quem somos. É um processo de coragem e renovação, uma tomada de consciência de nossos potenciais, de nossos limites, de nossas riquezas internas.

Momentos difíceis nos são como um espelho em que podemos nos ver como realmente somos, com nossos potenciais e limitações, pois ficamos desnudos frente a nós mesmos.

Esses momentos podem ser as oportunidades para deixar a vida frutificar e, quem sabe, mudar de rumo, seguindo um caminho de paz.






Fonte: Escola de Pais do Brasil – Seccional de Campina Grande/PB – Revista Programa – Novembro/2006 - Edição n° 14 - pág. 19.www.escoladepais.org.br

MENSAGEM

Invisível
Diana Mazur Franco G.

Era uma vez
um menino comum.
Tão comum, mas tão comum,
que ninguém reparava nele.
Invisível?
Não era feio, nem bonito,
nem grande, nem pequeno.
Inteligente?
Nem tanto,
mas também não era burro.
Às vezes carinhoso,
às vezes manhoso
e sempre triste.
Tinha muitos irmãos, primos e colegas de turma, mas poucos amigos.
Ficava sempre sozinho.
Sem ninguém reparar nele.
De vez em quando, ficava esperando um tipo patinho feio virar cisne, milagre, e aí…
Aí, todo mundo ia reparar nele e gostar dele.
Não ia ser somente um menininho perdido no meio da multidão.
Mas o milagre não acontecia… nunca.
Um dia, até a mãe reparou que ninguém reparava nele e o levou à psicóloga, que não reparou nele e se esqueceu de atendê-lo.
O menino foi ficando cada vez mais triste… triste…
e acabou vendo que não era de milagre que precisava nem de psicóloga.
Precisava era acabar com a tristeza.
Descobriu que era a tristeza que o fazia “invisível”.
E… aprendeu a sorrir.
Era uma vez um menino comum, nem grande, nem pequeno, nem inteligente, nem burro.
Carinhoso e manhoso que se chamava Felipe.
E era muito feliz.

MAZUR, Diana; G. Franco. In: CASTELLIANO, Tania. Desperte! É Tempo de Falar em Público. Rio de Janeiro: Record, 1997.

MENSAGEM



O empurrão

A águia empurrou gentilmente seus filhotes para a beirada do ninho.

Seu coração se acelerou com emoções conflitantes ao mesmo tempo que sentiu a resistência dos filhotes a seus insistentes cutucões. “Por que a emoção de voar tem que começar com o medo de cair?”, pensou ela.

O ninho estava colocado bem no alto de um pico rochoso. Abaixo, somente o abismo e o ar para sustentar as asas dos filhotes. E se, justamente agora, isso não funcionar?

Apesar do medo, a águia sabia que aquele era o momento. Sua missão estava prestes a se completar, restava ainda uma tarefa final: o empurrão.

A águia encheu-se de coragem. Enquanto os filhotes não descobrirem suas asas, não haverá propósito para a sua vida.

Enquanto eles não aprenderem a voar, não compreenderão o privilégio que é nascer águia. O empurrão era o melhor presente que ela podia oferecer-lhes. Era seu supremo ato de amor.

Então, um a um, ela os precipitou para o abismo. E eles voaram!

Às vezes, nas nossas vidas, as circunstâncias fazem o papel de águia: são elas que nos empurram para o abismo. E quem sabe não são elas, as próprias circunstâncias, que nos fazem descobrir que temos asas para voar?

VARGAS, Mariliz. A sabedoria do não. Curitiba: Rosea Nigra, 2009. 

LENDO E APRENDENDO

A importância e o desafio da contação de histórias no desenvolvimento infantil: O conto e o reconto
Rosa Costa

Resumo

A temática desenvolvida neste artigo demonstra a necessidade de resgatar o prazer de ler e interpretar por meio da contação de história. Procedimento metodológico, terapêutico e milenar, que complementa todo o processo de ensino-aprendizagem da criança, abrindo portas e janelas para o mundo do conhecimento, do encantamento e do prazer de ler, proporcionando possibilidades do conte outra vez, exercitando a interpretação e o reconto da literatura em transição.

Palavras-chave: Contação de história, encantamento, reconto e magia.

Pelos escritos de Platão, sabemos que as mulheres mais velhas contavam às suas crianças histórias simbólicas – mythoi. Desde então, os contos de fada estão vinculados à educação de crianças (Franz Marie – Louise, 1990, p.11).

A contação de história no desenvolvimento escolar e cognitivo favorece, aguça e ativa o conhecimento da criança por meio do imaginário, do criar e recriar, do conte outra vez. Faz a criança apropriar-se de um mundo mágico, com grandes possibilidades de viagem pelo mundo do encantamento, proporciona abertura de portas, permitindo um desenvolvimento linguístico a partir do enriquecimento do seu vocabulário, além de todo um contexto que envolve a reprodução da literatura ou contação de história vivenciada. A contação de história também traz a possibilidade de contextualizar o conteúdo escolar de uma forma interdisciplinar, lúdica e prazerosa, oportunizando um momento pedagógico por um processo de ensino-aprendizagem.

Para tal propósito, buscamos o professor, digo, educador, aquele que ama o que faz, acredita na Educação, na sua transformação e na construção do cidadão. Acredita que “dias melhores virão”. Ser contador de histórias é sonhar acordado, é viajar pelo mundo encantado e levar seus ouvintes ao mundo irreal, ao mundo do imaginário.

É de Rubem Alves, um grande contador de histórias, que trago esta contribuição:

Andando pelas ruas de uma cidade do interior paulista, encontrei uma clínica de psicopedagogia que anunciava sua especialidade em “distúrbios da aprendizagem”. Dei-me conta de já ter visto muitas clínicas com a mesma especialização, mas nenhuma que anunciasse “distúrbios de ensinagem”. Por acaso, serão só os alunos que sofrem de distúrbios? Somente eles têm dificuldades em aprender? E os professores? Nenhum sofre de “distúrbios de ensinagem”? Que preconceito nos leva a atribuir o problema sempre ao aluno? Que providências terapêuticas tomar quando o perturbado é o professor? Mas que psicólogo terá coragem para passar-lhe esse diagnóstico? É mais fácil culpar o aluno (Rubem Alves, Sociedade Palavra Viva).

O discurso do autor, Rubem Alves, nos remete a uma reflexão mais ampla das questões que envolvem o ensino-aprendizagem. Buscar culpados faz parte da prática de alguns docentes, mas não devia. Repensando essa prática, encontramos, na magia da contação de história, caminhos para uma aprendizagem sem dor, traumas ou autoritarismo.

“Distúrbios de ensinagem”, retomando Rubem Alves: O educador precisa sonhar e acreditar, rever sua prática pedagógica e seus “distúrbios de ensinagem”, usando o instrumento da contação de história como fonte de sabedoria, resgatando uma prática milenar, hoje estudada por pedagogos, psicanalistas, linguistas, entre outros, todos se aprofundando em suas especificidades e no compromisso educacional.

À medida que avançam os segmentos escolares, se reduzem os espaços e tempos do brincar, e as crianças vão deixando de ser crianças para ser alunos. A experiência do brincar cruza diferentes tempos (passado, presente e futuro) e lugares, sendo marcada ao mesmo tempo pela continuidade e pela mudança. A criança, pelo fato de se situar em um contexto histórico e social, ou seja, em um ambiente estruturado a partir de valores, significados, atividades e artefatos construídos e partilhados pelos sujeitos que ali vivem, incorpora a experiência social e cultural do brincar por meio das relações que estabelece com os outros — adultos e crianças. Mas essa experiência não é simplesmente reproduzida, e sim recriada a partir do que a criança traz de novo com o seu poder de imaginar, criar, reinventar e produzir cultura.

A criança desenvolve grandes possibilidades de mudança e de renovação da experiência humana, que nós, adultos, muitas vezes não somos capazes de perceber, pois, ao olharmos para ela, queremos ver a nossa própria infância espelhada ou o futuro adulto que se tornará. Reduzimos a criança a nós mesmos ou àquilo que pensamos, esperamos ou desejamos dela e para ela, vendo-a como um ser incompleto e imaturo e, ao mesmo tempo, esquecendo que também são seres pensantes.

Vygotsky (2008), falando sobre o desenvolvimento dos conceitos científicos na infância, afirma que:

No desenvolvimento da criança, a imitação e o aprendizado desempenham um papel importante. Trazem à tona as qualidades especificamente humanas da mente e levam a criança a novos níveis de desenvolvimento. Na aprendizagem da fala, assim como na aprendizagem das matérias escolares, a imitação é indispensável. O que a criança é capaz de fazer hoje em cooperação será capaz de fazer sozinha amanhã. Portanto, o único tipo de aprendizado é aquele que caminha à frente do desenvolvimento, servindo-lhe de guia; deve voltar-se não tanto para as funções já maduras, mas principalmente para as funções em amadurecimento... Mas devemos considerar também o limiar superior; o aprendizado deve ser orientado para o futuro e não para o passado (p.129 -130).

É no processo de contar e recontar histórias, interagindo com os outros, observando-os e participando das brincadeiras, que a criança vai se apropriando tanto dos processos básicos de amadurecimento como dos modos particulares de brincadeira, ou seja, das rotinas, regras e dos universos simbólicos que caracterizam e especificam os grupos sociais em que nos inserimos. Então, a leitura infantil deve ser inserida nesse contexto como mais uma brincadeira gratificante e produtiva, exercitando o poder da fala.

Quando as crianças brincam de ser “outros” (pai, mãe, médico, monstro, princesa, fada, bruxa, ladrão, bêbado, polícia, etc.), refletem sobre suas relações com esses outros e tomam consciência de si e do mundo, estabelecendo outras lógicas e fronteiras de significação da vida. O brincar envolve, portanto, complexos processos de articulação entre o já dado e o novo, entre a experiência, a memória e a imaginação, entre a realidade e a fantasia. As brincadeiras de imaginação e fantasia exigem que seus participantes compreendam que o que está se fazendo não é o que aparenta ser. Quando estão imitando um personagem, eles sabem que se trata de um personagem; por conta disso, podem experimentar, com segurança, a tensão e o medo e solucioná-los com o mesmo encantamento que os criou.

As observações levam-nos a perceber que a brincadeira requer o aprendizado de uma forma específica de comunicação, que estabelece e controla esse universo simbólico, espaço interativo em que novos significados estão sendo partilhados, vivenciados a partir do faz de conta nas teias que bordam o imaginário infantil.

Dito de outra forma, a apropriação dessa comunicação é condição para a construção das situações imaginadas (falas/diálogos dos personagens, narrativas das ações e dos acontecimentos), bem como para a organização e o controle das brincadeiras partilhadas pelas crianças. Sua apropriação de saberes se dá no próprio processo de brincar. É brincando que elas aprendem a brincar. O brincar é fundamental para o desenvolvimento infantil, o momento de cada um é único, é singular, precisa ser valorizado e estimulado a cada fase do seu desenvolvimento. É interagindo com o outro, observando-o e participando das brincadeiras que vão apropriando-se tanto dos processos básicos constitutivos do brincar como dos modos particulares de brincadeira, ou seja, das rotinas, regras e dos universos simbólicos que caracterizam e especificam os grupos sociais em que a criança está inserida.

Também sabemos que a afetividade é o caminho que devemos percorrer até chegar às crianças, apoiando e dando autonomia para criar e recriar na lógica do seu pensamento. Quantos Joãos e quantas Marias passam pelo educador querendo brincar de faz de conta, comer chocolate ou conhecer melhor a dona da casa, aquela velhinha, que também pode ser a vovozinha. “Príncipes e princesas todos querem ser, precisamos descobrir por quê. Até sabemos, mas, se falar, o encantamento pode acabar.”

Segundo a autora Marie-Louise Von Franz (1990, p. 9):

Contos de fada são a expressão mais pura e mais simples dos processos psíquicos do inconsciente coletivo. Consequentemente, o valor deles para a investigação científica do inconsciente é sobejamente superior a qualquer outro material [...] o conto de fada é, em si mesmo, a sua melhor explicação, isto é, o seu significado está contido na totalidade dos temas que ligam o fio da história.

Em uma contação de histórias, contos, fábulas ou lendas, sempre será a história a grande estrela do evento. Seus contadores, os coadjuvantes que se esmeram em contá-las. Não devemos fazer da contação de histórias um espetáculo onde a plateia confunde o seu real objetivo, devemos escolher uma determinada forma teatral, com glamour, sim. Contudo, o que deve brilhar é a história contada em versos ou prosa.

Como resgate do que já foi dito, o conto e reconto com princesas, príncipes, fadas, bruxas e até madrastas são fontes de imaginação coloridas e brilhantes no mundo mágico do faz de conta, do conte outra vez. Tudo em forma de arte e encantamento, dando continuidade ao mundo colorido que liga os fios dourados do imaginário a histórias bordadas pelo encantamento da arte de ser um eterno aprendiz.

Rosa Costa é educadora, mestranda, especialista em Recursos Humanos na Educação, pedagoga com formação em Dinâmica de Grupo, Psicodrama, Contação de Histórias e acessora pedagógica da Editora Construir.

Endereço eletrônico: rosacostaf@ig.com.br.

REUNIÃO DE PAIS E MESTRES

Filhos são como navios

Ao olhar um navio no porto, imaginamos que ele esteja em seu lugar mais seguro, protegido por uma forte âncora. Mal sabemos que ali está em preparação, abastecimento e provisão para se lançar ao mar, ao destino para o qual foi criado, indo ao encontro das próprias aventuras e riscos. Dependendo do que a natureza lhe reserva, poderá ter que desviar da rota, traçar outros caminhos ou procurar outros portos.

Certamente retornará fortalecido pelo aprendizado adquirido, mais enriquecido pelas diferentes culturas percorridas. E haverá muita gente no porto feliz à sua espera.

Assim são os filhos. Estes têm nos pais o seu porto seguro até que se tornem independentes.

Por mais segurança, sentimentos de preservação e manutenção que possam sentir junto aos seus pais, eles nasceram para singrar os mares da vida, correr seus próprios riscos e viver suas próprias aventuras.

Estão certos de que levarão consigo os exemplos dos pais, o que eles aprenderam e os conhecimentos da escola, mas a principal provisão, além das materiais, estará no interior de cada um: a capacidade de ser feliz. Sabemos, no entanto, que não existe felicidade pronta, algo que se guarda num esconderijo para ser doado, transmitido a alguém.

O lugar mais seguro em que o navio pode estar é o porto. Mas ele não foi feito para permanecer ali.

Os pais também pensam que são o porto seguro dos filhos, mas não podem se esquecer do dever de prepará-los para navegar mar adentro e encontrar o seu próprio lugar, onde se sintam seguros, certos de que deverão ser, em outro tempo, esse porto para outros seres.

Ninguém pode traçar o destino dos filhos, mas precisa estar consciente de que na bagagem devem levar valores herdados, como humildade, humanidade, honestidade, disciplina, gratidão e generosidade.

Filhos nascem dos pais, mas têm de se tornar CIDADÃOS DO MUNDO. Os pais podem querer o sorriso dos filhos, mas não podem sorrir por eles. Podem desejar e contribuir para a felicidade dos filhos, mas não podem ser felizes por eles. A felicidade consiste em ter um ideal para buscar e ter a certeza de estar dando passos firmes no caminho da busca.

Os pais não devem seguir os passos dos filhos nem estes devem descansar no que os pais conquistaram. Devem, os filhos, seguir de onde os pais chegaram, de seu porto, e, como navios, partir para as próprias conquistas e aventuras. Mas, para isso, precisam ser preparados e amados, na certeza de que: “Quem ama educa”.

Como é difícil soltar as amarras. 

Edgar Morin


EDGAR MORIN – considerado um dos maiores pensadores do século XX, é doutor honoris causa em 17 universidades de diversos países, diretor do Centro de Estudos Transdisciplinares em Paris, presidente da Agência Européia de Cultura da Unesco e presidente da Associação de Pensamento Complexo.

Sete Saberes — proposta para uma reorganização da educação,
através do estudo que revela as necessidades para a educação do futuro.

1. Reconhecer as cegueiras do conhecimento, seus erros e suas ilusões – é assumir o ato de conhecer como um “traduzir” e não como uma foto correta da realidade. Trata-se de armar nossas mentes para o combate vital pela lucidez, e isso significa estar sempre buscando modos de conhecer o próprio ato de conhecer.

2. Assumir os princípios de um conhecimento pertinente – entende-se a necessidade de ensinar os métodos que permitam apreender as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo desse mundo complexo. Trata-se de desenvolver uma atitude mental capaz de abordar problemas globais que contextualizem suas informações parciais e locais.

3. Condições Humanas – deveria ser o objeto essencial de qualquer sistema de ensino, e isso passa por considerar conhecimentos que estão dispersos em várias disciplinas, como as Ciências Naturais, as Ciências Humanas, a Literatura e a Filosofia. As novas gerações precisam conhecer a unidade e a diversidade do humano.

4. Identidade planetária – tem a ver com mostrar a complexidade da crise planetária que caracteriza o século XX. Trata-se de ensinar a história da era planetária, mostrando como todas as partes do mundo necessitam ser intersolidárias, uma vez que enfrentam os mesmos problemas de vida e de morte.

5. Enfrentar as incertezas – reveladas ao longo do século XX através da Microfísica, da Termodinâmica, da Cosmologia, das Ciências Biológicas Evolutivas, das Neurociências e das Ciências Históricas. É preciso aprender a navegar no oceano das incertezas através dos arquipélagos das certezas.

6. Compreender – é, ao mesmo tempo, meio e fim da comunicação humana, portanto não pode ser algo desconsiderado pela educação. Precisamos passar por uma reforma das mentalidades.

7. Ética do gênero humano – propõe uma abordagem que considere tanto o indivíduo quanto a sociedade e a espécie. E isso não se ensina dando lições de moral. Isso passa a consciência que o humano vai adquirindo de si mesmo como indivíduo, como parte da sociedade e como parte da espécie humana. Isso implica conceber a humanidade como uma comunidade planetária composta de indivíduos que vivem em democracias.

Texto adaptado da matéria publicada na revista Linha Direta, ano 5, nº 57, de dezembro de 2002. 

EDUQUE COM AMOR

Eduque com muito amor
Hélio Júnior

Se eu pudesse dar uma dica sobre o futuro da Educação deste país, seria esta:

EDUQUE COM MUITO AMOR!

Já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável, além de minha própria experiência errante. Mas agora eu vou compartilhar estes com você.

• Aproveite bem, o máximo que puder, o poder de seu conhecimento, seja ele científico ou não, pois ele sempre vai ajudá-lo.

• Dedique alguns minutos do dia para planejar seu trabalho, estabelecer objetivos e procurar executá-los passo a passo.

• Seja uma pessoa perseverante, pois, na escola, assim como na vida, o sucesso é traçado com as nossas atitudes.

• Não desanime. Nem sempre os resultados virão imediatamente. É assim para todo mundo. O que vale é saber que todo espaço é gratificante, principalmente se tratando de Educação.

• Acredite em alguns ditos populares, como “vestir a camisa”, “arregaçar as mangas”, “entrar com o pé direito”… Mas não leve ao pé da letra outros, como “dê o sangue pelo trabalho”, pois isso pode fazer mal a você.

• Não pense nos problemas particulares quando estiver no trabalho. Se fizer isso, conte-me como conseguiu.

• Entenda que colegas vão e vêm, mas nunca abra mão daqueles poucos e bons.

• Aceite certas verdades inescapáveis.

• A teoria é bem diferente da prática.

• Podemos chegar em casa exaustos, pensando em desistir de tudo, mas reconhecendo o nosso esforço. No final, veremos que tudo valeu a pena.

• Dedique-se a conhecer os seus alunos. É possível encontrar entre eles uma joia rara, um diamante que só precisa ser lapidado.

• Valorize as inteligências múltiplas.

• O aluno é um potencial em ação, e cabe a você, professor, descobrir quais são as suas maiores habilidades e, assim, apoiá-lo, ajudando-o a caminhar, porque o sucesso dele também é o seu.

• Atualize-se. Nunca deixe de estudar. Você logo perceberá a diferença daquele professor “sabe-tudo”, que dedicou seu tempo muito mais a aprender do que a compartilhar os conhecimentos adquiridos.

• Não tenha vergonha de “pagar mico”. “Pagar mico” é uma forma de divertir alguém, talvez até você mesmo.

• Seja irreverente e transmita alegria com sua irreverência. SORRIA!!! Não existe algo tão simples e tão intenso quanto um belo sorriso. Todos os dias, dê um sorriso de boas-vindas e, assim, com certeza, você perceberá que ele foi retribuído.

• Faça algo que até hoje nunca fizeram ou viram alguém fazer.

• Desperte a curiosidade dos seus alunos. Desafie-os. Deixe-os com aquela vontade de mostrar que aprenderam o que você ensinou.

• Desperte a fome nos seus alunos por aquilo que você pretende ensinar e nunca se esqueça de elogiá-los.

• Dance de acordo com a música e não saia do ritmo. Se for preciso, EXTRAVASE! Deixe a dança consumir seu corpo de forma nostálgica, permita-se sentir esse prazer.

• Não tenha medo de ser avaliado, talvez seja a melhor oportunidade de mostrar o bom trabalho que faz.

• “Use filtro solar.”

• Busque ser feliz, realizando-se interiormente. Quando se é feliz por dentro, tudo por fora reflete o nosso interior. Quando a alma está feliz, a prosperidade cresce, a saúde melhora, as amizades aumentam, os alunos fazem tarefas de casa e aprendem o que ensinamos. Enfim, o mundo fica de bem conosco, e a sala de aula reflete o que sentimos.

Não importa qual seja a sua escolha, ensinar é uma arte.

É a arte de despertar sabedoria e conhecimento.

É a arte de iniciar o diálogo e encaminhar o aluno para a aventura da vida.

É a arte de ensinar fórmulas, regras, raciocínios e de despertar para a realidade.

É a arte de recuperar a autoestima daqueles que poucas chances tiveram.

É a arte de estimular o processo de ensino para um futuro melhor.

Ser professor é despertar a magia do saber, é abrir caminhos de esperança. É desvendar o mistério do cálculo, da fala e da escrita, criando o real desejo de ser.

É por isso que digo isso a você, meu amigo:

O FUTURO DA EDUCAÇÃO DEPENDE DE TODOS NÓS.

Eduque sempre com muito amor.

O MENINO PINTOR

O menino pintor

O texto seguinte “fala” sobre o papel do professor em relação ao ato imaginativo do aluno: “O Menino Pintor”, escrito por Púllias e Young Earl, discute questões necessárias à reflexão em torno de ações educativas.
Pense: É melhor ganhar sempre o peixe do pescador ou aprender com o pescador a pescar? Após a leitura, comente com os seus “botões”.

O menino pintor

Era uma vez um menino que ia à escola
Ele era bastante pequeno
E ela era uma grande escola.
Mas quando o menino descobriu que podia ir à sua sala caminhando através da porta da rua, ele ficou feliz.
E a escola não mais parecia tão grande quanto antes.

Uma manhã, quando o menininho estava na escola, a professora disse:
“Hoje nós iremos fazer um desenho”.
“Que bom” pensou o menininho.
Ele gostava de fazer desenhos.
Ele podia fazê-los de todos os tipos: leões, tigres, galinhas, vacas, trens e barcos e ele pegou uma caixa de lápis e começou a desenhar.

Mas a professora disse: “Esperem, ainda não é hora de começar”.
E ela esperou até todos estarem prontos.
“Agora” - disse a professora.
“Nós iremos desenhar flores”.
“Que bom”. - pensou o menininho.
Ele gostava de desenhar flores.
E ele começou a desenhar diversas flores com seu lápis rosa, laranja e azul.

Mas a professora disse: “Esperem.
Vou mostrar como fazer”.
E a flor era vermelha, com o caule verde.
“Assim” disse a professora.
“Agora vocês podem começar”.
O menininho olhou para a flor da professora.
Então olhou para a sua flor
Ele gostou mais da sua flor.
Mas não podia dizer isto.

Ele virou o papel e desenhou uma flor igual à da professora.
Era vermelha com o caule verde.
No outro dia, quando o menininho estava em aula ao ar livre a professora disse:
“Hoje iremos fazer alguma coisa com barro”.
“Que bom” - pensou o menininho.
Ele gostava de barro.
Ele podia fazer todo tipo de coisa com o barro: elefantes e camundongos, carros, caminhões.
E ele começou a amassar e juntar sua bola de barro.

Mas a professora disse:
“Esperem. Não é hora de começar”.
E ela esperou até todos estarem prontos.
“Agora”. - disse a professora.

“Nós iremos fazer um prato”
“Que bom” - pensou o menininho.
Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos.
A professora disse: “Esperem.
“Vou mostrar como se faz”.
E ela mostrou a todos como fazer um prato fundo.
“Assim” - disse a professora.
“Agora vocês podem começar”.
Então ele olhou para o seu próprio prato.
Ele gostava mais do seu prato que o da professora.
Mas ele não podia fazer isso.

Ele amassou o seu barro numa grande bola, novamente e fez um prato igual ao da professora.
Era um prato fundo.
E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a fazer as coisas exatamente como a professora e muito cedo ele não fazia mais as coisas por si próprio.

Então aconteceu que o menino e sua família mudaram-se para outra casa, em outra cidade, e o menininho tinha que ir a outra escola.
Esta escola era ainda maior do que a outra.
E não havia porta da rua para sua sala.
Ele tinha que subir grandes degraus até sua sala.

E no primeiro dia ele estava lá.
A professora disse:
“Hoje nós vamos fazer um desenho”.
“Que bom” - pensou o menininho, e ele esperou que a professora dissesse o que fazer.
Mas a professora não disse nada.
Ela apenas andava pela sala.

Quando ela veio até o menininho disse: “Você não quer desenhar?”
“Sim”, disse o menininho. “O que vamos fazer?”
“Eu não sei até que você faça” - disse a professora.

“Como eu posso fazê-lo?” - perguntou o menininho.
“Da maneira de que você gostar”. - disse a professora.
“E de que cor?” perguntou o menininho.

“Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como posso saber quem faz o quê?”
“E qual o desenho de cada um?”
“Eu não sei”, disse o menininho.
E ele começou a desenhar uma flor vermelha
com um caule verde.

Earl, Púllias e Young, A arte do magistério



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